Tuesday, December 23, 2008

Menina Lua

(Beatriz, ao visitar seu templo tive vontade de brincar com as palavras
e pensar em você)

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Pés descalços na areia
Alma entregue ao vento
Anjo ou sereia?
É lua cheia no firmamento

Princesa nua a nascer das ondas
Estrelas brincam em seus cabelos
Olhar de fogo e ametistas
Pérola mágica... Convertendo em ouro os próprios sentimentos

Tuesday, December 02, 2008

Mergulho

E teu e meu
Sabor, aroma
Cor, textura
Profundo breu

O pequeno invólucro
A proteger a porta
Toda tua, quase nua
Singela entrada do paraíso

Tomo- te com ímpeto
De uma paixão abrasadora
União de carne e alma
Flutuando no infinito

Thursday, November 27, 2008

...



A água corria calma
Lambendo as pedras do leito
A mata, em seu eterno sussurro
O vento quase a cantar

Um ser amaldiçoado
Viu-se plenamente acolhido
No nada, completamente perdido
Jamais se sentira tão amado

Estava a fugir da morte
Das perseguições eternas
Do povo das velas
Numa vida ingrata e sem sorte

E pôde num instante contemplar
A face do Criador
Pôde compreender o amor
E fez da floresta um lar

Celebrei tua vida como a de um deus
Brindei a ti com meu sangue
Consagrei minhas vestes
E fiz meu corpo teu

Entreguei a ti minha vida
Num ato de desespero
Mergulhando no abandono
Para ser tua escolhida

Deito-me só, tenho frio
Teus braços a muito não me querem
Tantas em tua cama de mim se riem
Completas, e eu sou só vazio



Era teia
Na ponta daqueles dedos

E eu temia
Confrontar meus medos

Mas queria
Perder-me em teus cabelos

Mal sabia
Que tu eras o senhor dos meus pesadelos

Thursday, September 11, 2008

Architect

E eu gostava tanto daquele menino.
Dos olhos brilhantes que me faziam contemplar o firmamento.
E ver estrelas perdidas num olhar
Encontrar vestígios de pó estelar em seu sorriso

Menino que de tanto querer alguém
Preferia espantar e afastar
Por querer algo incomum
Por querer alguém irreal

E era aquele incompatível
Com o recado que me deixou
Deveras atrevido
Mas ainda era ele, sem sombra de dúvida

Numa faceta que gerava em mim receio
De sê-lo tão vulgar
De não ter visto estrelas naquele olhar
Em medos que roubam minha paz

Disse-me que fora um rompante
De tão inebriado que estava
Por minha imagem desvelada
Que a uma atitude pueril o motivara

E seu riso tímido é ainda mais doce
Agora que no início
Riso roubado, ele é para mim o vício
Que não mata, pois só fortalece

Esses olhos que mantém o viço
O poder de me vencer num toque
Amor, tesouro dos pobres
Agraciada por ti estava eu, desde o início

Friday, September 05, 2008

Se até eu sou um ser imaginário...

Do luto à luta
O labor diário
A dura lida
De um ser exausto

Ser este que já abdicou de seus sonhos
Ao acatar tantas vontades
Esqueceu de suas próprias
Sorvido e incorporado ao pão

Peleja contra o inimigo invisível
Tenta vencê-lo a todo custo
Admirável homem simples
Que tem em si o maior inimigo

Quebre os grilhões e ouse voar
Ainda que tudo lhe falte
Não permita que lhe arranquem a vida
Mesmo que seu corpo caia no embate.

Monday, August 18, 2008

Era um sonho claro
Como manhã de Outono
Onde furtam-se as nuvens
E os raios de Sol vêm brincar

Nos teus cabelos soltos
O aroma de flores e frutos
Inebriante véu dourado
A recender pelo ar

E todo meu desejo
É um adeus silencioso
Tua imagem a se fundir ao Sol
Teu perfume guiando-me ao túmulo

Thursday, August 14, 2008

Desejos


"My Wife, Nude, Contemplating her Own Flesh Becoming Stairs, Three Vertebrae of a Column, Sky and Architecture" - Salvador Dali




Eu queria os idílios

Os mais loucos sonhos de amor não correspondido

As odes

O louvor, a honra e a glória dos povos


Queria um homem que me desse um conto

Uma canção, um retrato ou um poema

Ao menos uma vez seria a musa

Plenamente celebrada num doce sonho


Pois eu busco usurpar

Uma glória que jamais será minha

O esplendor celeste, o Cetro Lunar

E ser de todas as gentes rainha


Por me prender a esperanças irreais

Vivo só e vazia

Contemplando o movimento da vida

Suprindo minhas necessidades vitais


Banais, tolas e mundanas

Como os instintos animais que alimento

Com minhas lágrimas, filhas do Tormento

Fruto de tantas utopias insanas


Tuesday, July 29, 2008

Gulliver

On Dead Man Hill (Le Mort Homme), near Verdun (CNP)


Cai o corpo

O pó voa juntamente com a alma

Que sobe

Até o limiar das estrelas

O sangue corre

Livre, esvaindo-se sem destino

A lágrima escorre

Como o último grito de quem já não pode gritar

A garganta seca

O sabor férreo da morte é o que lhe resta

Nesse amargo instante contempla o firmamento

E, num segundo, vê todos os seus sonhos ruírem

Todos os esforços e sacrifícios tornam-se pó

Que sobe

Guiando sua alma à morada das estrelas

Monday, July 28, 2008

Crescente...

Lanço a semente
Apurada e sem defeito
Esta toma por leito
A margem à beira da nascente

Como mãe que acalenta
A terra fornece o pão e o abrigo
Ao seu mais amado filho
Que cresce em sua força

No divino florescer
O uno torna-se muitos
O chão torna-se jardim
Repleto de pomos e frutos

Como o sol poente
A flor já sem vida
Cai por terra, desfalecida,
Para renascer noutra semente

Tuesday, July 22, 2008

Folhas...

Façam a roda, cantem em coro
Mas, por favor, não me chamem.
Eu gosto de correr pela sombra
Gosto de me confundir com o tom cinza das paredes de concreto desta minha metrópole

Prefiro não ser vista, nem ouvida
Mesmo porque nada tenho a dizer
Estou no silêncio absoluto
Onde só se ouvem pensamentos

Minhas ambições são nulas
Sossego, solidão e isolamento
Não me siga, pois seguirá o vento

Saturday, July 19, 2008

*

Traga
A chama pura
O brilho da última noite

Deito-me as margens
Das densas e turvas águas
Levem-me para longe

Oh, Diva Crescente
Ordene aos mares

Que me carreguem
Para os braços de Anfitrite

Seja eu uma das cortesãs
De seu reinado submarino

Enquanto a chama do altar de Héstia faz arder os prados verdejantes...